Em reunião com procuradores, Vinicius afirma precisar de segurança pra fechar acordo
Antônio Vinicius Lopes Gritzbach foi assassinado no Aeroporto Internacional de São Paulo na sexta-feira (8). O MP informou que o empresário sempre recusou proteção.
Jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), o empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach — executado no Aeroporto Internacional de São Paulo na sexta-feira (8) — pediu mais segurança ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) para fechar acordo com promotores contra a facção criminosa e policiais.
A TV Globo teve acesso a um trecho da reunião do empresário com os promotores. No encontro, cuja data não foi informada, Gritzbach disse:
“Tenho comprovantes de pagamento, tenho contrato, tenho matrícula, tenho as contas de onde vinham o dinheiro, então dá pra gente fazer o caminho inverso. Tenho as conversas de Whatsapp com os proprietários. Eu apresento, doutor, mas cada vez mais eu preciso de mais segurança. Então, eu precisava de um amparo de vocês também do que eu vou ter. Se não, vocês estão falando com um morto-vivo aqui.”
O MP-SP disse que ofereceu mais de uma vez segurança ao empresário e que ele sempre recusou a proteção. A defesa de Gritzbach disse que vai aguardar o fim das investigações para se manifestar. Os suspeitos seguem foragidos.
Acusado de ser o mandante do assassinato de dois integrantes do alto escalão da facção criminosa em dezembro de 2021, Gritzbach contratou por conta própria quatro policiais militares.
PMs da escolta particular são investigados
Os quatro PMs contratados para fazer a escolta particular do empresário foram identificados e afastados de suas funções neste sábado (9).
Os policiais Leandro Ortiz, Adolfo Oliveira Chagas, Jefferson Silva Marques de Sousa e Romarks César Ferreira de Lima prestaram depoimento no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pela investigação, e na Corregedoria da PM. Os celulares dos PMs também foram apreendidos.
Uma das linhas de investigação do DHPP é que os seguranças de Gritzbach teriam falhado de forma proposital e indicado o momento que o empresário estava desembarcando do aeroporto. A polícia quer saber com quem os PMs conversaram momentos antes do crime, por isso os celulares foram apreendidos.
Os quatro policiais teriam afirmado que o carro que buscaria o empresário no aeroporto quebrou no caminho. Por conta disso, apenas um dos seguranças foi fazer a proteção do assassinado usando outro veículo; já os outros três seguranças ficaram onde o carro teria quebrado.
Como Gritzbach era muito visado por ter delatado práticas criminosas do PCC, um investigador disse à TV Globo que o mais lógico teria sido eles deixarem o carro quebrado para trás e os quatro seguranças irem ao aeroporto buscar o homem e não três deles protegerem um suposto carro quebrado.
Os investigadores também acreditam que Gritzbach já vinha sendo monitorado desde a saída de Maceió (AL) pois os assassinos sabiam o horário em que ele desembarcaria. A suspeita é que os matadores foram avisados do momento do desembarque para que o ataque fosse executado no momento em que ele pisasse para fora do saguão do aeroporto.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a namorada do empresário — que estava presente no momento da execução — também prestou depoimento. “Os dois carros utilizados pela escolta da vítima e um terceiro, supostamente usado pelos atiradores, foram apreendidos e periciados, assim como os celulares dos integrantes da escolta e da namorada do homem”, informou a pasta.
Feridos
Dois motoristas de aplicativo, de 39 e 41 a nos, e uma mulher que estava na calçada do terminal, de 28, também ficaram feridos durante a execução do empresário, jurado de morte da facção criminosa paulista.
Eles foram socorridos e encaminhados ao Hospital Geral de Guarulhos. OS homens permanecem internados neste sábado, enquanto a mulher recebeu alta.
Executado entregou ao MP esquemas do PCC
Homem é morto no Aeroporto Internacional de SP. — Foto: Arquivo pessoal
Gritzbach entregou esquemas criminosos do PCC (Primeiro Comando da Capital) em depoimentos dados ao Ministério Público de São Paulo nos últimos meses. Ele é réu em processo em que responde por lavar dinheiro da facção criminosa. Ele teria atuado para lavar R$ 30 milhões em dinheiro proveniente do tráfico de drogas. Segundo fontes da Polícia Federal, a maior parte dessas operações de lavagem foi feita com a compra e venda de imóveis e postos de gasolina.
Em seus depoimentos, o homem entregou esquemas do PCC, deu pistas de ilícitos cometidos pela facção e prometia entregar mais informações. Por isso, a suspeita principal no momento é de seu assassinato é uma queima de arquivo motivada por vingança.
Ainda segundo as investigações, Vinicius chegou a ter influência em células do PCC, como participação no tribunal do crime — quando se avalia se um integrante deve ou não ser assassinado por deslealdade à facção.
Como a execução aconteceu
O ataque ocorreu por volta de 16h. Vinícius voltava de Maceió acompanhado da namorada e foi surpreendido quando deixou o Terminal 2 do aeroporto.
Além dele, outras três pessoas ficaram feridas: dois motoristas de aplicativo e uma mulher que estava na calçada do terminal. Eles foram socorridos em estado grave, segundo os investigadores.
Gritzbach chegou a ser atendido pelo Corpo de Bombeiros, mas não resistiu aos ferimentos. Os tiros de fuzil calibre 765 partiram de dois homens dentro de um veículo modelo Gol, cor preta.
Um dos seguranças estava com o filho de Vinícius, que chegou sozinho ao aeroporto. Segundo as investigações, o empresário tinha quatro seguranças, todos policiais militares de São Paulo. Eles foram identificados e serão interrogados, além de terem os seus celulares apreendidos.
A namorada do Vinicius foi embora antes da chegada da polícia, mas os investigadores a identificaram no começo da noite e a levaram para o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), no Centro de São Paulo.
Pessoas próximas a Vinicius disseram informalmente aos investigadores que ele tinha conhecimento que desafetos sabiam da colaboração junto ao MP. O empresário temia pela própria vida, eles contaram.
Os quatro seguranças estavam em um carro a caminho do aeroporto, mas o veículo quebrou no caminho. Um dos homens seguiu com o filho do empresário para o Terminal 2, enquanto os outros ficaram no veículo em um posto de gasolina.
Também houve um outro tiroteio perto do Hotel Pullman, nas imediações do aeroporto.
O Ministério Público de São Paulo disse que ofereceu mais de uma vez segurança a Antônio Vinicius Lopes Gritzbach e que ele sempre recusou a proteção. A defesa de Antônio Vinícius disse que vai aguardar o fim das investigações para se manifestar. Os suspeitos seguem foragidos.
Quem era Vinícius Gritzbach
Antonio Vinicius Lopes Gritzbach era corretor de imóveis no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Anos atrás ele passou a fazer negócios com Anselmo Bicheli Santa Fausta. Conhecido como Cara Preta, Santa Fausta movimentava milhões de reais comprando e vendendo droga e armas para o PCC.
Cara Preta gostava de investir o dinheiro do crime em imóveis, mas tinha um problema: não podia comprar em seu nome, pra não chamar a atenção das autoridades. Foi Vinicius que apareceu com a solução. Além de conseguir imóveis de alto padrão, o corretor ainda providenciava os “laranjas”, que emprestavam o nome para que Santa Fausta adquirisse os imóveis.
Há uns 5 anos, Vinícius ofereceu outro negócio a Santa Fausta: criptomoedas. De olho na suposta rentabilidade da aplicação, Santa Fausta teria dado R$ 200 milhões para Vinícius investir. Até que, em 2021, Santa Fausta queria parte do dinheiro para investir na construção de um prédio e Vinícius teria começado a dar desculpas pra não entregar os valores. Os dois tiveram um discussão feia, segundo testemunhas.
Dias depois, Santa Fausta e o motorista dele foram assassinados numa emboscada no Tatuapé. Segundo o MP, Vinicius foi o mandante do crime. Ele teria mandado matar Santa Fausta pra não ter de devolver o dinheiro.
Fonte: G1